Silêncio por Thich Nhat Hanh

O Poder da Quietude em Um Mundo Barulhento

Quantos minutos ao dia — se é que isso acontece — você passa realmente em silêncio?

Foi com esse questionamento que eu comecei a refletir sobre a minha vida, minha ansiedade e o ambiente em que vivo atualmente. 

Segundo Thich Nhat Hanh, um monge budista, o ser humano precisa de silêncio tanto quanto precisa de ar para viver. E se formos analisar bem a evolução do ser humano, não nascemos em ambientes barulhentos, cheios de buzinas, gente gritando ou som de tv. Ao contrário, fomos criados para viver em ambientes silenciosos, como florestas e campos. E essa exposição o tempo todo aos ruídos produzidos pela era moderna está nos adoecendo. A prova disso são os níveis absurdos de ansiedade e as crescentes taxas de distúrbios do sono na população mundial. 

Afinal, você também não foi feito para dormir com barulho e as luzes da cidade se infiltrando na sua janela. 

E o fato de estarmos expostos o tempo todo a ruídos externos, faz com que o nosso cérebro se acostume a isso, e por isso, ele cria palavras e pensamentos constantes para suprir qualquer espaço de silêncio. Afinal, somos seres adaptáveis: se você está exposto o tempo todo a barulho, seu cérebro vai passar a se incomodar com silêncio e criar subterfúgios para lhe levar de volta ao barulho, da mesma forma que ele faz com pessoas viciadas em adrenalina, expondo-as a cada vez mais situações que gerem adrenalina. 

O problema é: 

Se nossas mentes estão repletas de palavras e pensamentos, não há espaço para nós.


Ainda segundo ele, a solução para isso é o treinamento através da prática do mindfulness. Óbvio, ele é um monge budista, você achou que seria algo diferente? 

Com o mindfullness, você deixará de sentir a necessidade de correr atrás de coisas sem sentido. E a verdade é que você vive correndo, vive procurando alguma coisa, pois acredita que isso seja crucial para sua paz e felicidade. Você se esforça para conseguir tais coisas, para depois ser feliz. Você acredita que não reúne as condições para ser feliz atualmente, por isso desenvolve o mesmo hábito de tanta gente, o hábito de viver correndo atrás de uma ou outra coisa.

Mas de fato, faz algum sentido. 
A prova disso é a necessidade criada pelo capitalismo de produtividade. Para ser produtivo, você precisa estar o tempo todo fazendo alguma coisa, lendo alguma coisa, escutando alguma coisa... Logo, o mindfullness é um contrassenso! Porém, será tudo isso não passa de um jeito de preencher uma sensação desconfortável de vazio? Talvez seja apenas para evitarmos um encontro com nós mesmos.


Qual o problema com a alta produtividade? 

Um belo dia, podemos descobrir que nossa vida está chegando ao fim, e nem assim sabermos dizer o que fizemos enquanto estivemos vivos. É possível que tenhamos gastado dias inteiros raivosos, com medo e sentindo ciúme. Raramente oferecemos a nós mesmos tempo e espaço necessários para pensar: Estou fazendo o que realmente quero com a minha vida? Aliás, eu sei o que quero fazer com a minha vida? O ruído em nossa mente e ao nosso redor afoga a “voz fininha, mas constante” que vive em nosso interior. Estamos tão ocupados fazendo “alguma coisa” que raramente separamos um tempo para observar e checar nossos desejos mais profundos.

Então, precisamos virar monges budistas e fazermos um voto de silêncio? 

Não. 
Você pode criar ilhas de silêncio na sua vida e no seu ambiente mesmo vivendo em grandes cidades. 
Experimente acordar de madrugada, por volta de 3h ou 4h da manhã e apreciar a cidade e o silêncio enquanto todo mundo está dormindo. Tome seu café apreciando esse momento. 

Ou crie um jardim no seu quintal, onde você possa se expor aos barulhos da natureza, atraindo pássaros e cheiros que lhe colocarão em contato com a sua ancestralidade, e diminuindo os seus niveis de estresse. Se você trabalha em casa, já pensou em criar um ambiente adaptado para trabalhar observando o jardim? 

Você até pode manter a sua boca fechada, para algumas pessoas isso é até importante (eu me incluo), mas a ideia é silenciar a sua mente, conectando-a um ambiente que ela foi criada para interagir, lá nos primórdios da humanidade. 

Praticar o silêncio não significa passar a vida mudo, sem se envolver nem fazer nada. Simplesmente significa que não somos perturbados por dentro, não há um falatório constante. Se somos verdadeiramente silenciosos, não importa o que nos aflija, sempre é possível desfrutar o doce espaço do silêncio. Em certos momentos, imaginamos estar em silêncio, pois não existe qualquer som ativo ao nosso redor. No entanto, se não acalmarmos nossa mente, a conversa segue presente no interior da nossa cabeça.

As pessoas que preferirem tentar o "voto de silêncio" ou "silêncio nobre", também terão muitos benefícios, pois essa prática oferece uma chance de reconhecermos como nossa energia habitual se manifesta na maneira como reagimos às pessoas e às situações que nos rodeiam.

Algumas pessoas escolhem praticar uma ou duas semanas de silêncio, outras chegam aos três meses ou mais. Após tanto tempo em silêncio, somos capazes de transformar a maneira como reagimos a uma série de situações. Esse silêncio é chamado de nobre porque tem o poder de curar. Quando você pratica o silêncio nobre, não está apenas evitando falar, mas acalmando e tranquilizando seus pensamentos.

Por fim, a conclusão é que os povos antigos viviam muito melhor do que a nossa moderna sociedade porque eles estavam conectados a natureza, e seus corpos adaptados ao ambiente para o qual foram projetados, seja pela evolução ou por desígnos de Deus. Escolha a opção que você quiser. 

Ao modificarmos nosso ambiente, nosso cérebro não acompanhou essa mudança e hoje sofremos as consequências. 

Não pensar é uma arte e, assim como qualquer arte, requer paciência e prática.

Bora praticar então? 


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Natalia Eiras

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