O nome do autor é completamente impronunciável pra mim.
Na verdade, o nome da maioria dos personagens que nos são apresentados também. E eu (quase) fiz uma árvore genealógica do autor para conseguir entender a estrutura familiar dele, de tão complexa que é a coisa.
Mas, este livro é uma aula de história e cultura africana, pela visão de um dos autores de maior influência da literatura africana.
Ngugi wa Thiong'o é mais conhecido pelo livro "Um grão de trigo", lançado no Brasil pela Alfaguara, que aborda o processo de independência do Quênia.
Em "Sonhos em Tempo de Guerra", vamos acompanhar a infância de Ngugi, começando pela estrutura familiar intrincadíssima de sua família, composta por 4 mães e incontáveis irmãos; a segunda guerra mundial, que teve participação de tropas quenianas, apesar de isso ter sido praticamente apagado dos registros históricos (ou você sabia que os quenianos lutaram lado a lado com os ingleses?); bem como o desenvolvimento da educação no Quênia que proporcionou que Ngugi aprendesse a ler e escrever em inglês, algo muito difícil de se obter na época.
Ao longo do livro, ele nos conta como era o trabalho nas fazendas dos brancos, como as escolas começaram a surgir a partir de insttuições religiosas, como os italianos, prisioneiros de guerra, foram enviados ao Quênia para construir estradas e como o comércio era dominado pelos indianos, além de abordar os movimentos iniciais para a libertação do Quênia, e os ritmos africanos de passagem da infância para a vida adulta.
Não espere encontrar um livro repleto de reviravoltas e aventura.
O que você encontra neste livro é um mergulho na cultura africana da década de 40/50, através do relato de uma criança/adolescente, que mostra como o colonialismo continuava firme e forte na África de forma tão implacável quanto o colonialismo escravocrata do Brasil, mesmo passado mais de meio século entre um evento e outro.
A única diferença era que os quenianos não eram escravos, mas isso era mera formalidade. Porque na prática, eles foram recompensados com suas terras sendo tomadas pelos brancos e eles tendo que trabalhar nas terras que antes eram deles, por uma miséria.
O problema deste livro é que ele não tem fim, pois a história termina quando Ngugi vai para uma nova escola, que seria um ensino médio (ou algo parecido). Podemos dizer que a continuação deste livro é justamente a obra prima de Ngugi wa Thiong'o: "Um grão de trigo".
Então, esta é uma leitura com "venda casada". Porque depois que você terminar de ler "Sonhos em Tempos de Guerra", inevitávelmente irá querer ler "Um grão de trigo". Fato!
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